quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O Índio e a Árvore

Era uma vez uma árvore, que, quando deu conta da sua existência era uma pequena sequóia com semanas de vida, numa floresta com árvores gigantescas, que já lá viviam à centenas de anos, eram tão grandes e altas que pareciam tocar o céu. “Um dia também vou ser assim, vou tocar no céu e ser maior que todas estas árvores!” pensou a pequena sequóia. Este era o seu maior desejo, a única coisa que a sua visão lhe permitia contemplar, eram as sombras das outras árvores, alguns feixes de luz que se escapavam por entre as ramagens e a margem do lago. “Este lago é especial” dizia a pequena árvore. Dizia isto sem saber quão especial era o lago ou o que lhe poderia trazer de bom, e assim a sequóia continuava a sonhar com o seu futuro.

Os dias passaram, seguidos de meses e anos. Os anos foram tão longos que fizeram séculos. Neste recanto secreto da floresta as coisas permaneciam iguais. O lago continuava com a sua aparência ‘especial’, e as árvores gigantescas permaneciam no mesmo sítio, com as suas majestosas dimensões inalteradas. Apenas uma coisa estava diferente. A pequena sequóia, já não era pequena, tinha crescido, e cresceu tanto, mas tanto que ficou maior que todas as árvores da floresta. Tal como era o seu desejo. Até então, esta, agora majestosa árvore, nunca tinha podido contemplar a beleza do seu lago que considerava tão especial. E era de facto especial. Tinha uma presença misteriosa, muita vegetação densa ao seu redor, e a sua água uns tons de azul, verde e com uns toques de negro que se misturavam na perfeição.

Um dia na calmaria dos momentos que se passavam naquela floresta, apareceu um pequeno menino índio na sua canoa. O menino parecia estar perdido e ao mesmo tempo maravilhado com aquele recanto da floresta que tinha acabado de descobrir. Ao chegar à margem, explorou com o seu olhar a vegetação que o cercava, e passeou-se entre as árvores até ir de encontro à maior árvore da floresta. O pequeno índio parecia ainda mais pequeno na presença de uma árvore tão grande. “Tu és a maior árvore desta floresta.” Disse o índio à árvore. “O meu nome é Tupi. E eu quero que tu sejas a minha árvore ‘especial’! Mas para isso precisas de ter um nome. Deixa cá ver... Já sei! Vais ser a árvore Kapi!”” Ao ouvir isto a árvore agitou levemente a sua folhagem, como que maravilhada com tal criatura e com o facto de querer ser seu amigo, e melhor ainda, agora ela tinha um nome, o que a tornava única em relação às outras árvores da sua espécie. “Andei a passear de canoa e acho que me perdi, por isso vou tentar subir até ao teu topo, para poder ver o caminho de volta. Mas ainda bem que me perdi, porque assim encontrei-te!” Palavras doces para esta árvore centenária agora com nome. No entanto estava um pouco receosa ao saber que Tupi queria subir por ela. Nunca ninguém, nem nenhum animal, alguma vez tinha tentado tal coisa. Mas este ágil índio, sem medo algum das alturas, conseguiu fazê-lo com uma estranha facilidade. Ao chegar a um galho bem alto, pode ver todo o lago e o caminho por onde tinha vindo. “Já sei por onde tenho de ir, daqui vê-se o caminho de regresso. Obrigado Kapi, agora tenho de ir antes que fique de noite e fiquem preocupados comigo lá na aldeia, mas amanha volto para te visitar.” E com a mesma facilidade com que subiu assim desceu. Naquele momento aquela árvore desejou falar, para poder agradecer a Tupi e ao lago por aquele dia tão especial.

No dia seguinte, lá estava outra vez o pequeno índio brincalhão. Mas desta vez não subiu até ao topo, ficou a brincar e a correr ao redor da árvore e falou, falou, falou, falou tudo o que quis e disse tudo o que lhe vinha à cabeça. Kapi tinha-se tornado a sua nova confidente. Os dias foram-se passando nesta rotina, e embora a árvore se mantivesse na mesma, o passar dos anos faziam-se notar em Tupi, que já não tinha aparência de criança, mas era agora um jovem índio adulto, robusto e cheio de força e vitalidade. Mas o seu carinho por Kapi mantinha-se, bem como as visitas diárias. Um dia o jovem índio trouxe outra pessoa consigo, era uma criança recém nascida. O primeiro filho de Tupi. Naquele momento a árvore sentiu-se pequena, como tinha sido nos seus primeiros dias de vida, ao contemplar aquela pequena criatura. A partir daquele momento Tupi tinha iniciado uma tradição secreta que apenas seria revelado ao primeiro filho que nascesse de cada casal da sua descendência. Assim, Kapi viu passar diante de si vários descendentes de Tupi, todos eles com a vitalidade do seu antepassado e com o carinho especial pela natureza e por Kapi.

Este era, e seria sempre, o segredo mais bem guardado entre os humanos e uma árvore.

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